A vida deve ser um equilíbrio entre o mundo “concreto”
(aquele socialmente aceito) e o nosso mundo imaginário. A maioria de nós paira
sobre estes dois mundos o tempo todo... por exemplo: quem nunca desintegrou
outra pessoa no seu mundo imaginário ou teve romances incríveis. Algumas
pessoas mais sensíveis geralmente sucumbem ao mundo imaginário pois ele é bem
menos cruel do que a nossa tosca realidade. Essa história se passa nesse mundo
imaginário.
As pessoas acham que se conhecem, mas como isso é possível,
se todos os relacionamentos passam apenas no mundo concreto. O que se passa no
nosso imaginário é tão particular de cada indivíduo que deve ser apenas do
conhecimento do Criador. Um certo dia, chateado com o cotidiano desse mundo cão
chamado real, viajei para o meu universo paralelo (acho que esse é um dos
maiores poderes que o pensamento nos proporciona). E lá estava ela. Crítica,
discreta, ou pelo menos era o que eu sentia dela, mas com um senso de justiça
que me intrigava e mexia comigo. Malena, vamos chamá-la assim, aquele perfil
que o ocidente idealizou de uma ateniense, nem era preciso fazer correção
alguma no “photoshop” da imaginação, bastava lembrar da sua imagem do mundo
real. Mas algo estava mudando no meu mundo. O equilíbrio entre o real e o
imaginário (Pasárgada) estava pendendo para o mundo onde eu podia ver a bela...
E esse é a verdadeira armadilha do mundo imaginário que torna muitos de nós
chamados de “malucos”, pois a musa imaginária sempre será melhor que a real. Lá
em Pasárgada, Malena foi algo tão profundo que me tocou como nunca. Mas como
stalkear alguém que conhecia apenas de vista e de uma troca de questionamentos
num seminário sobre corrupção. Nada como a internet de Pasárgada, e lá estava
algumas coisas da Bela. Não participava de redes sociais pois não tinha tempo
para tal, estava no pós-doutorado de direito internacional e estava numa
cruzada contra a corrupção. Nem era jornalista de formação, mas seus dois
livros foram best seller em 22 países em menos de 3 anos. Suas paixões declaradas
eram vinhos, livros e viagens. E eu cada dia me sentia atraído por essa
desconhecida que parecia ser um amor de outra vida. Em Pasárgada eu era um
jornalista político investigativo, bem diferente da vida chatérrima da
realidade onde era um temido gerente de finanças. Sabia que era um babaca, meus
funcionários não me respeitavam, apenas temiam e o meu casamento por interesse
era patético, uma vez que a minha mulher simplesmente me ignorava como pessoa e
eu era tratado como um escravo. Mas isso foi fruto de uma escolha covarde. Mas
a vida parece a enchente de um rio, e podemos represar ou desviar, mas uma
hora, toda a força se revela e as águas seguem o seu rumo vencendo tudo. Era
assim que eu me sentia, com a vida “real” toda estruturada, cada dia eu fugia
mais ainda para Pasárgada, no início apenas no silêncio da hora de dormir, mas
a medida de que as coisas iam me aproximando de Malena, eu fugia cada vez
mais... nas mais variadas horas. Isso foi transformando minha vida aqui fora
num caos, mas nem ligava muito, sempre podia ir para Pasárgada. No início era
apenas com o pensamento, mas agora com auxílio de um remédio para dormir e o
tempo de sono aumentava cada vez mais. Certo dia estava em Pasárgada, ia
encontrar Malena em Alexandria. Tudo foi cuidadosamente planejado, queria
mostrar os escombros do fora o maior centro de saber do mundo antigo e depois
iríamos passar a noite num acampamento para observar o céu no deserto. Meu único
problema era ser perseguido por uma mafiosa da américa latina devido a uma
denúncia feita por mim anos atrás. Por causa disso, eu sempre monitorava os
movimentos dos seus principais capangas. Um deles era Dionísio, um matador de
aluguel que agora trabalhava apenas para a mafiosa. Mas o último informe de um
amigo da Interpol dizia que eles estavam numa pista falsa que eu havia implantado
algumas semanas no Canadá. Mas voltemos ao encontro com Malena. Já se passava
das 9 horas de uma noite bem fria nesse deserto, devias estar uns 10 º.
Estávamos os dois um do lado do outro, deitados numa esteira térmica sobre uma
duna observando a constelação de Órion (era a única que eu sabia...rsrs) de
mãos dadas, eu sentia um calor intenso com a proximidade de Malena contrastando
com frio intenso do deserto. Ela vira seu rosto e nós damos um beijo cálido,
quase de primeira vez, e eu profundamente extasiado em ver o que estava
acontecendo. Nos beijamos de forma mais intensa, ela passa a mão na minha nuca
e eu sinto uma leve picada e perco os sentidos. Horas mais tarde acordo com uma
sensação de ressaca, terrível, e vejo Malena abraçada a Dionísio. Estava sendo
levado para o covil da mafiosa. Uma dor terrível tomou conta do meu peito e
ficava me perguntando como tudo deu errado num mundo da minha imaginação. Por
que estava sendo traído por quem eu mais havia idealizado e ainda entregue aos
meus inimigos?! Queria morrer pois não havia mais outro lugar para escapar.
Pasárgada era o refúgio ideal da vida patética que eu levava devido as minhas
escolhas. Me perguntava o que deu errado enquanto era levado para a Mafiosa.
Quando dou de cara com a minha algoz! Agora ouço as respostas que achava que não tinha. A
mafiosa era na verdade a minha mulher da vida real e tudo que estava
acontecendo era um distúrbio no espaço tempo da realidade com o imaginário, que
as pessoas mais antigas chamavam de remorso. O que Malena e Pasárgada faziam eu
sentir agora era o mesmo que eu fazia com as pessoas no mundo real. Mas agora
eu não tinha um lugar para escapar.... tanto o real como meu imaginário se
tornaram meu inferno. E eu achava que Deus não existia... e não conseguia me
livrar daquela angústia em nenhum dos mundos....