quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Ângulos Suplementares

Suspirei penosamente e encarei esporadicamente o rapaz que conversava de forma descontraída e rápida com seus amigos em uma roda mal estruturada e oval. 
Meus amigos seguiram para a porta de acesso ao pátio dialogando de forma animada, tentando acompanha-los com entusiasmo semelhante tomei um gole do líquido transparente de minha garrafinha e ensaiei um sorriso largo e inquebrável no rosto. 
Por um curto período meu sorriso artificial convenceu-os com maestria porém chegou-se o momento em que um deles percebeu o produto tosco que eu vendia em meus lábios petrificados. Embora ele não fosse o mais atento dos homens, me conhecia perfeitamente. Cada detalhe ínfimo de minha rústica personalidade, cada lapso de memória que eu representava, cada pico de humor que eu atingia.
Assim como eu o conhecia melhor que ele mesmo. Eu sabia cada detalhe sujo da vida infame que ele levava, cada página manchada de amônia, sangue e gametas que ele possuía em seu livro da vida, cada teatro erótico que ele representava durante a semana com naturalidade e prazer.
De certa forma nós éramos como ângulos suplementares, existindo em algumas situações variações imperceptíveis. Olhei novamente a roda alguns centímetros a frente e percebi que ele me encarava. Assim que percebeu meu olhar gelado sobre ele, desviou os olhos para minha mão esquerda entrelaçada a mão direita de meu amigo e bufou chamando a atenção de seus companheiros. 
Sorri ligeiramente maliciosa para ele e atirei meus braços finos em torno do pescoço de meu acompanhante. E ao enterrar meu rosto sob o peito dele, pude sentir o cheiro inebriante invadir minhas narinas. Finalmente me senti segura e inteira. 
- Bitch

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